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Um Papa Europeu
Já percorremos dois anos do pontificado de Bento XVI, o papa Ratzinger. Em primeiro lugar, Ratzinger é incontestavelmente um grande teólogo e um pensador respeitado por toda a Europa. Seus colóquios intelectuais se dão com Jacques Derida, com Yurgen Habermas, com o falecido Paul Ricoeur e outros. Foi professor de quase todos os atuais grandes teólogos latino-americanos, alguns dos quais dele, pessoalmente, receberam apoio, até econômico, para a conclusão de seus cursos e publicação de suas teses. É, portanto, um estudioso dedicado. Alguém que ama a pesquisa e a vida acadêmica. Durante todo o tempo de seu trabalho como Prefeito na Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé obedeceu fielmente as orientações do seu superior imediato o Papa João Paulo II. Agora, não mais como Prefeito mas como Papa, ele imprime o rumo a ser tomado.
Pela análise dos seus primeiros dois anos de pontificado pode-se perceber, até agora, que há uma continuidade com o seu antecessor, o Papa João Paulo II, mas há também uma descontinuidade bastante notável para quem observa mais de perto e com cuidado o atual pontificado. Para ilustrar tal descontinuidade basta atentar para a escolha do nome. Uma continuação sem nenhuma ruptura geraria um João Paulo III e não um Bento XVI. Esta observação não é marginal pois o nome escolhido resulta numa determinada visão de pontificado. Bento XVI não escolheu simplesmente continuar o pontificado anterior mas imprimir a sua visão pessoal. Uma visão pessoal que necessariamente não coincide com a sua anterior a serviço do Papa João Paulo II onde a perspectiva, a orientação eram necessariamente as do Pontífice reinante e não as dele. Assim funciona o sistema hierárquico da Igreja. A base é a obediência.
A descontinuidade pode ser comprovada através da gestão ordinária do organismo vaticano, a Cúria Romana, a escolha dos colaboradores, os gestos, a maneira de realizar as coisas, os seus pronunciamentos e a sua primeira encíclica junto com a Exortação Apostólica pós-sinodal. Não há dúvida de que está em curso na Igreja uma administração mais descentralizada. O Papa tem emitido sinais de que quer episcopados locais, nacionais e regionais fortalecidos. Escolhas de bispos com maior participação das Igrejas locais e um novo episcopado com um perfil mais intelectualizado saído das academias e que possam exercer seu ministério juntando sensibilidade pastoral, competência teológica e espírito de liderança. É claro que um episcopado com este perfil tende a ser menos dependente, mais criativo e mais sintonizado com as realidades e os desafios do seu povo.
O Papa Bento XVI é visceralmente europeu e identificado com a cultura européia. Sua origem germânica manifesta suas preocupações com os valores estruturantes da cultura ocidental e cristã: a liberdade responsável, o valor da razão, o apreço pelos direitos da pessoa humana, da autonomia e da convivência pacífica e construtiva das nações, povos, culturas e religiões. Neste contexto, o Papa vê uma contribuição essencial do cristianismo sem o qual nem a Europa, nem o mundo alcançarão o patamar desejado. Valores tão centrais para a sobrevivência da humanidade que não podem ser justapostos em igualdade de condições com outros valores. Estes são universais e indispensáveis para a consolidação de todos os outros justos e legítimos anseios da humanidade.
A sua primeira encíclica, seguindo a linha de sua pregação, é centrada no anúncio de Jesus Cristo em primeiro lugar. As questões de moralidade e disciplina eclesiástica, que antes ocupavam um lugar muito central, agora são derivadas, como conseqüência de uma descoberta da novidade perene do Evangelho. A síntese de todo seu discurso é o anúncio sereno, motivador e revolucionário do imenso amor misericordioso de Deus derramado profusamente em nós através de Jesus Cristo no Mistério da sua Encarnação. É o Kerigma cristão desenvolvido e analisado a partir de várias perspectivas.
Percebe-se que a Europa já está compreendendo a linguagem deste pontífice de frágil estatura, voz débil e pouco afeito às câmeras da TV. Em dois anos de pontificado Roma já registrou uma multidão para ouvi-lo, superior aos vinte e tantos anos do grande pontificado de JPII. Claro que pesa a favor, o fato de a Alemanha ficar mais perto e os alemães serem mais ricos. O que importa, no entanto, não é a comparação mas a decepção que este fato trouxe aos que apostavam na falência da Igreja sob o pontificado de Ratzinger. Saibam os que torcem pelo extermínio da Igreja que ela há de sepulta-los misericordiosamente, os atuais e os futuros, pois o Senhor prometeu: “Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno jamais prevalecerão sobre ela.” (Mt 16,18).
Padre José Cândido da Silva
Pároco da Igreja São Sebastião - Barro Preto
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