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O Rosário da Virgem Maria

O Rosário da Virgem Maria


1. A História do Rosário

Com este título, Rosarium Virginis Mariae, o Papa João Paulo II dirige-se aos fiéis através da sua Carta Apostólica datada no dia 16 de outubro de 2.002 vigésimo quinto ano do seu pontificado. Nesta Carta o pontífice também proclama o “Ano do Rosário” que vai de outubro deste ano até outubro do próximo ano. Mais uma das suas iniciativas para dinamizar a fé da Igreja no início do terceiro milênio da era cristã.

A oração do Rosário tem sua origem imersa no passado distante. Os anacoretas do antigo oriente usavam pedrinhas para contar o número das orações vocais. São Beda, o Venerável, (672 - 735) sugeriu aos seus a adoção de vários grãos enfiados em um barbante. Nos conventos medievais os monges, não clérigos, dispensados das Horas Canônicas no coro, pela pouca familiaridade com o latim, alimentavam sua espiritualidade com as orações do Pai Nosso e da Ave Maria. No século XIII, São Domingos, grande pregador e propagador da fé entre a gente simples, revitalizou esta forma igualmente simples de oração. O nome rosário surge para significar que tal oração é como uma guirlanda de rosas oferecida a Maria. São Domingos conseguiu combater a disseminação da heresia albigense entre o povo através do incremento da oração do rosário. O Papa dominicano São Pio V (1566-1572) foi o primeiro a encorajar oficialmente a toda a Igreja a reza do rosário. Daí em diante o rosário se transforma na forma de rezar mais popular, o chamado breviário do povo.


2. A Estrutura Tradicional do Rosário

Aos poucos foi se solidificando uma forma comum da oração do rosário dividido em três partes denominadas cada uma delas de “o Terço”. Cada Terço, por sua vez se subdivide em cinco dezenas de contas permeadas pela contemplação dos mistérios da vida de Jesus. Os mistérios da alegria que narram os momentos mais marcantes da infância de Jesus: o anúncio do anjo a Maria ( Lc 1, 26-38); a visita de Maria a Izabel sua prima, grávida de João Batista ( Lc 1, 39-56); o nascimento de Jesus, o Natal ( Mt 2, 1-12 e Lc 2, 1-18); a apresentação de Jesus no templo de Jerusalém (Lc 2, 22-40); e igualmente no templo, sua perda e encontro ( Lc 2, 41-52). Os mistérios dolorosos que narram os momentos mais significativos da paixão do Senhor: a agonia de Jesus no Jardim das Olivas ( Mc14, 32-42 e paralelos); sua flagelação e condenação à morte ( Mt 27, 15-26 e paralelos); a sua coroação com a coroa de espinhos (Mc 15, 16-20 e paralelos); o caminho do calvário com seu instrumento de condenação ( Lc 23, 26-32 e paralelos); e a morte de Nosso Senhor (Jo 19, 28-37). Os mistérios gloriosos que recordam os momentos mais importantes da vitória do Crucificado sobre a morte: sua ressurreição gloriosa ( Mc 16, 9-13 e paralelos); sua ascensão ao céu Mc 16, 19-20 e paralelos); o derramamento do Espírito Santo no Cenáculo no início da pregação do Evangelho e da formação da Igreja (At 2, 1-13). Os dois últimos mistérios gloriosos nos indicam como o Senhor Jesus associou sua Mãe querida ao Mistério da sua glória elevando-a pelo poder do Espírito a uma glorificação completa e constituindo-a Mãe da Igreja, servidora e colaboradora especial do seu Reino de vida, paz, justiça e amor. 

Após cada mistério contemplado reza-se a oração que nos foi ensinada por Jesus, o Pai Nosso, e as dez Ave-Marias. Esta é uma oração bíblica formada da dupla saudação a Maria: a do Anjo e a de Izabel. O mais importante é a proclamação central para qual converge a primeira parte da Ave-Maria: o nome de Jesus. A segunda parte é uma terna e humilde resposta da Igreja associando-se à Maria na oração a Jesus, Deus encarnado. 


3. Contemplar Cristo com Maria

O Papa, muito oportunamente, lembra-nos, citando Paulo VI, que o Rosário é uma oração eminentemente cristológica. Uma oração que tem Cristo no centro: “contemplar, com Maria, o rosto de Cristo”. No evangelho, esta experiência está, de modo especial, registrada no relato da Transfiguração no Tabor ( Mt 17, 1-8 e paralelos), o grande ícone da contemplação do Mistério do Senhor. O próprio Tabor por sua vez estende esta contemplação para a vida pregressa de Jesus, suas origens, sua pregação e sua missão, e para o futuro marcado pela imolação, morte e glorificação. A contemplação no Tabor é o grande fundamento bíblico para a oração do Rosário. Contemplar no hoje da nossa história eclesial e pessoal o rosto de Jesus junto com Maria é a melhor forma de nos unir aos três apóstolos para uma profunda e, ao mesmo tempo simples e prática, experiência de oração. A contemplação de Jesus, o único Salvador e Mediador ( 1 Tm 2,5), assume um significado de ternura e de intimidade, quando feita em conjunto com a sua Mãe. A partir da nossa experiência humana percebemos que falar de alguém, olhar alguém que nós amamos ao lado e junto de sua mãe é a melhor forma de penetrar a intimidade da pessoa. Algumas vezes descobrimos coisas que nem a própria pessoa sabe de si mesma. 

A reflexão do Papa evidencia cinco tipos de olhares que de certa forma correspondem às quatro subdivisões atuais do Rosário. O olhar interrogativo aquele que pergunta: “Porque nos fizeste isto, meu Filho” ( Lc 2, 48). Interroga mas “conserva a lembrança de todas as coisas no seu coração” ( Lc 2, 51). Este olhar está muito presente na infância de Jesus. O olhar penetrante que busca compreender e, conseqüentemente, viver as razões mais profundas das palavras e das ações de Jesus já adulto. “Este é meu Filho amado em quem ponho a minha afeição” ( Mt 3, 17) , assim legitimado “fazei tudo o que ele vos disser”( Jo 2, 5), “ouvi-o” (Mt 17, 5) pois queremos estar profundamente unidos em comunhão com Ele e com seu Reino pois “quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,51). Este olhar está presente na vida pública de Jesus. O olhar doloroso é o olhar cheio de compaixão mas também de comprometimento com a causa do Reino pela qual Jesus sofre e morre. “Ele entregou a vida em resgate de muitos” ( Mt 20,28) e “quem quiser me seguir tome também a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). O olhar radioso contemplando a vitória do justo sobre as potências do mal e da morte. “Ele ressuscitou como disse e apareceu a Simão” ( 1 Cor 15,4). E “nós vimos a sua glória, glória” ( Jo 1,14). Este olhar diz respeito aos mistérios da ressurreição e ascensão de Jesus. Por fim o olhar ardoroso dos que foram inundados pelo derramamento do Espírito e saíram a proclamar “a todas as nações o evangelho do Reino de Deus” ( Mc 13,10). Todos estes olhares são fruto de uma recordação, de uma memória que nos vem do contato com as Escrituras Cristãs. Por isto, Paulo VI dizia que o Rosário é um compêndio do Novo Testamento e a própria “recitação vocal das dez Ave-Marias é a urdidura sobre a qual se desenrola a contemplação dos mistérios de Cristo” ( Marialis Cultus No. 46).


4. Luz para iluminar a nossa vida  

Para realçar esta dimensão cristológica do Rosário João Paulo II acrescenta os Mistérios da Luz: o batismo de Jesus feito por João que não é o sacramento cristão mas um rito de penitência em preparação aos tempos finais; as bodas de Caná onde Jesus antecipa a pedido de Maria, a Mulher, seus sinais anunciadores do Reino; o núcleo fundante da pregação de Jesus, o anúncio do Reino de Deus; a transfiguração do Tabor; a instituição da Eucaristia. A antiga fixação do Rosário em três partes onde se contavam 150 Ave-Marias em paralelismo com os 150 salmos é, portanto, abandonada. O papa sugere que estes novos mistérios da luz sejam contemplados na quinta-feira, deslocando os mistérios da alegria, rezados neste dia, para o sábado. O Santo Padre lembra-nos também que na contemplação do mistério do Deus vivo deve-se unir o silêncio, a ausência das imagens, das palavras e dos gestos que são paralisados pelo esplendor da glória divina com a presença humilde, em sereno equilíbrio, do ser humano em toda a sua realidade psíco-física e relacional. Por isto a Igreja apóia métodos e formas facilitadoras para nos ajudar neste itinerário de espiritualidade. 

O Rosário é, portanto, um método e não um fim em si mesmo. À contemplação de cada mistério deve seguir um tempo de silêncio que mesmo a oração vocal ajuda a prolongar ao promover um ambiente de oração. “Sem (a contemplação) o mesmo Rosário é um corpo sem alma e a sua recitação corre o perigo de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas e de vir a achar-se em contradição com a advertência de Jesus: ‘Nas vossas orações, não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos’( Mt 6,7)” ( Marialis Cultus no. 47). Em resumo, o Rosário é um método de contemplação permeado do começo ao fim pela Palavra de Deus, centralizado na pessoa e missão de Jesus muito sugestivo, prático e simples para todos os cristãos que desejam cultivar com profundidade sua espiritualidade na vida concreta. Por isto termino com as palavras de um dos maiores teólogos do mundo contemporâneo, um dominicano holandês: “Enquanto se prossegue na doce e monótona cadência das Ave-Marias, o pai ou mãe de família pensa nas preocupações familiares, no menino que atendem, ou nos problemas provocados pelos filhos mais velhos. Este emaranhado de aspectos da vida familiar sofre então a iluminação dos mistérios salvíficos de Cristo, e é espontâneo confiar tudo à Mãe do milagre de Caná e de toda a Redenção” (E. Schillebeeckx).   

 

Padre José Cândido da Silva 

Pároco da Igreja São Sebastião - Barro Preto


 

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