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34º Domingo do Tempo Comum


N. S. Jesus Cristo Rei do Universo C 16
Um Rei de amor

Para nos fazer contemplar o Rei do Universo, a Liturgia nos põe diante da figura de um Rei-Servidor, que morreu na cruz sem honras nem triunfos, mas que nos fez entrar num Reino onde reinam para sempre o amor, a misericórdia e a compaixão.

1ª leitura: Na presença do Senhor, em Hebron, os anciãos ungiram David rei de Israel (2 Samuel 5,1-3).

Salmo: 121(122) - R/ Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!

2ª leitura: “Ele nos recebeu no Reino de seu Filho amado” (Colossenses 1,12-20).

Evangelho: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reinado” (Lucas 23,35-43).

Um Rei, mas não como os outros

A Bíblia quer nos dizer o que é indizível. Recorre para isso a diversos gêneros literários: o mito, a poesia, textos legislativos, narrativas... Como o centro visado por esta ciranda de escritos sempre nos escapa, as palavras usadas não guardam mais o seu sentido habitual; nem mesmo a palavra «deus». Tomemos como exemplo a palavra «pastor». Foi por causa de Davi, a quem Deus havia tirado de trás da fila de ovelhas para fazer dele o pastor de seu povo, Israel, que “pastor” quer muitas vezes designar o rei. Mas que estranho pastor é este! Todo pastor vive do seu rebanho, mesmo sendo somente um empregado. São as ovelhas que o alimentam e sustentam com sua carne e sua lã. Mas não é o que acontece com o pastor bíblico, cuja figura mais acabada iremos encontrar no capítulo 10 de João: o verdadeiro pastor é “aquele que dá a sua vida por suas ovelhas”, ao invés de viver delas. O mesmo tipo de constatação se faz necessário para todas as palavras que designam o Messias e a sua atuação, inclusive a palavra «redenção» ou «resgate». O mesmo vale para «Rei» e o seu «trono». Corremos o risco de ver neste personagem um ser à parte, distante de nós por sua competência e seu poder. Ora, todo o relato bíblico nos encaminha para a figura de um «soberano» sem nenhum poder sobre os seus súditos. E o vemos até mesmo submetido às decisões destes, ainda que elas o conduzam à morte. Este Rei, que imaginaríamos uma espécie de autocrata cheio de vontades misteriosas, imprevisíveis e desconcertantes, revela-se finalmente como o Servidor. O primeiro se fez o último e o Todo-poderoso veio até nós sob a forma do Todo-fraqueza.

A realeza de Deus, uma metáfora

Sem precisar ater-nos ao fato de a expressão «Cristo-Rei» ser um pleonasmo, devemos notar que a palavra Cristo já designa aquele que recebeu a unção real, a que o final da primeira leitura se refere. Inúmeros são os textos que nos falam da realeza de Deus; por exemplo, o salmo 95 diz que Deus é «o grande rei sobre todos os deuses», ou o salmo 97, do qual as primeiras palavras são: «Iahweh é rei». É que, então, entre todos os personagens da terra, não se conhecia ninguém com poder maior do que o rei. Era o único cuja vontade se impunha sem discussão possível. Tem-se ido muito longe com esta metáfora: representa-se Deus sentado em seu trono e sendo servido por uma multidão de subalternos celestes. Ele está «acima de tudo» e de todos. Temos dificuldade em ir além desta metáfora, e aceitar o quão importante é reconhecer que a «lei» divina, a lei do amor, seja preferível a qualquer decisão dos poderes humanos. Esta «realeza» de Deus se exprime e toma forma em Cristo, o «Verbo de Deus», esta Palavra criadora que, em obra desde sempre, ganha corpo ou, por assim dizer, superfície, na pessoa de Jesus. Com Ele, a realeza de Deus, o seu Reino, está entre nós, está em nós. Secretamente, Ela trabalha a humanidade até que esta chegue à sua plenitude no final dos tempos, para além do tempo, para além da história. Enquanto esperamos, Ele está em trabalho, em nós e entre nós. Em gestação. Estamos longe daquele soberano sentado em seu trono. Deus é Espírito e o Cristo, que se tornou «corpo espiritual», não exerce nenhuma autoridade comparável à dos soberanos deste mundo. Aliás, nos evangelhos, não vemos Jesus, visibilidade do Deus invisível, forçar a mão sobre o que quer que seja; jamais. Ao contrário, não faltam os «se queres...» e os «quem quiser...».

A "Onipotência"

O tema da realeza de Deus, e por consequência do Cristo, está ligado ao da onipotência. O problema é que muitos cristãos imaginam que tudo o que acontece no mundo e em suas vidas seja resultado de uma intervenção divina. O tema da «divina providência» não escapa nunca desta confusão. Claro que Deus está aqui, conosco, em tudo o que temos de viver, mas o mundo foi confiado ao homem. Deus se despojou, de qualquer forma, do exercício da sua onipotência e responde às nossas preces dando-nos o Espírito, para que possamos gerir da melhor forma tudo o que se impõe a nós (ver Lucas 11,9-13). É assim que se estabelece o Reino do Cristo. Um Reino que, conforme Jesus disse a Pilatos no evangelho de João, “não é deste mundo”, um mundo que funciona segundo a sua própria lógica, ao sabor das liberdades humanas. Para o melhor ou para o pior. Não é deste mundo nem é neste mundo. Esta impotência do Cristo tornou-se evidente nas zombarias que teve de suportar quando sofreu e morreu na Cruz. Aí se produziu a inversão fundamental que governa as nossas existências: porque Jesus, acolhendo com toda a liberdade estes sofrimentos e esta morte, agora domina, e a Cruz se torna o trono da sua onipotência. Por ela, conforme repete o Evangelho de João, ele foi «levantado da terra» e, daí em diante, os olhares de todos os que o trespassaram se voltarão para ele. Aprofundemos mais o que acaba de ser dito: por meio de Jesus e de sua existência histórica, Deus interveio de fato no mundo. E com toda a sua onipotência, afinal de contas. Onipotência esta que é exercida bem aí, onde ela mais é desmentida: em sua morte foi que o Cristo a exerceu em plena luz. E que se fez revelar por sua vitória sobre o que há de pior, a sua vitória sobre a morte, o «último inimigo» (1 Cor 15,25-26). A Ressurreição já está aí.

Marcel Domergue, jesuíta (tradução livre de www.croire.com pelos irmãos Lara)

 

Carregar a cruz de Cristo

O relato da crucificação, proclamado na festa do Cristo Rei, recorda aos seguidores de Jesus que seu reino não é um reino de glória e de poder, mas de serviço, amor e entrega total para resgatar o ser humano do mal, do pecado e da morte.

Acostumados a proclamar a «vitória da Cruz», corremos o risco de esquecer que o Crucificado nada tem a ver com um falso triunfalismo que esvazia de conteúdo o gesto mais sublime de serviço humilde de Deus para com suas criaturas. A Cruz não é uma espécie de troféu que mostramos a outros com orgulho, mas o símbolo do Amor crucificado de Deus que nos convida a seguir seu exemplo.

Cantamos, adoramos e beijamos a Cruz de Cristo porque, no profundo do nosso ser, sentimos a necessidade de dar graças a Deus pelo seu amor insondável, mas sem esquecer que o primeiro que nos pede Jesus de forma insistente não é beijar a Cruz mas sim carregá-la. E isso consiste simplesmente em seguir seus passos de forma responsável e comprometida, sabendo que esse caminho nos levará mais tarde ou mais cedo a partilhar seu destino doloroso.

Não nos é permitido aproximar-nos do mistério da Cruz de forma passiva, sem intenção alguma de carregá-la. Por isso, temos que cuidar muito de algumas celebrações que podem criar em torno da Cruz uma atmosfera atrativa mas perigosa, se nos distraem do seguir fielmente o Crucificado fazendo-nos viver a ilusão de um cristianismo sem Cruz.

É precisamente ao beijar a Cruz quando temos que escutar a chamada de Jesus: «Se alguém vem detrás de mim... que carregue a sua cruz e me siga».

Para os seguidores de Jesus, reivindicar a Cruz é aproximar-nos serviçalmente dos crucificados; introduzir justiça onde se abusa dos indefesos; reclamar compaixão onde só há indiferença ante os que sofrem. Isto irá trazer-nos conflitos, rejeição e sofrimento. Será a nossa forma humilde de carregar a Cruz de Cristo.

O teólogo católico Johann Baptist Metz insistiu no perigo de que a imagem do Crucificado nos esteja a ocultar o rosto de quem vive hoje crucificado. No cristianismo dos países do bem-estar está acontecendo, segundo ele, um fenômeno muito grave: «A Cruz já não intranquiliza a ninguém, não tem nenhum aguilhão; perdeu a tensão do seguimento a Jesus, não chama a nenhuma responsabilidade, mas retira-nos dela».

Não teremos todos de rever qual a nossa verdadeira atitude ante o Crucificado? Não teremos de nos aproximarmos Dele de forma mais responsável e comprometida?

José Antonio Pagola

 


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