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29º Domingo do Tempo Comum


Rezar sempre e nunca desistir”

Num gesto concreto, Aarão e Ur ajudam Moisés a manter os braços estendidos para, com a sua oração, sustentar o combate de Israel. Paulo exorta Timóteo ao combate da fé. E Jesus, numa parábola de alerta, põe em cena um juiz sem vergonha e uma viúva obstinada. A Palavra, com sua força, modula a potência da oração.

1ª leitura: “Enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia” (Êxodo 17,8-13).

Salmo: Sl 120(121) - R/ Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra.

2ª leitura: Graças às Escrituras, o homem de Deus estará preparado para realizar toda espécie de bem (2 Timóteo 3,14;4,2)

Evangelho: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele?” (Lucas 18,1-8)

O silêncio de Deus

Se Jesus recorreu a esta parábola, é porque temos aí um problema: o aparente silêncio de Deus diante das nossas orações. As Escrituras, porém, estão cheias de convites para que apresentemos a Deus as nossas necessidades e preocupações, afirmando que seremos ouvidos. Lembremos Lucas 11,9: "Também eu vos digo: Pedi e vos será dado, buscai e achareis, batei e vos será aberto." Melhor ainda, podemos ler em Mateus 6,7: "Nas vossas orações, não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. (...) Vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes”. O Pai não dará uma pedra ao filho que lhe pede pão... Podemos ficar perplexos diante de tantos textos contraditórios na aparência. Mas há também a experiência: quantas orações parecem ficar sem resposta! Os de bom espírito dirão que por não rezarmos com bastante fé. E eis-nos aqui em vão nos esforçando para experimentar sentimentos de fé, enquanto a fé não pode ser fabricada, mas somente recebida. Permanece verdade que não consiste a fé apenas em crer que Deus irá nos responder, mas também que já respondeu: "Tudo quanto suplicardes e pedirdes, crede que já o recebestes, e assim será para vós." (Marcos 11,24). No entanto, o menos que se pode dizer é que, na maior parte do tempo, não é isto o que se vê.

A parábola

Vamos reler a parábola sobre este pano de fundo. Ela está construída em cima de um contraste: a oposição infinita que há entre o bem e o mal; entre um juiz sem qualquer moralidade, e Deus. A quem Deus se assemelha? Não a este juiz, por certo. E, no entanto, eles têm pontos em comum: o poder de decidir e o pedido insistente que lhes é dirigido. Quando, então, intervém um "a fortiori": se um juiz, que não ama ninguém e procura tão somente a sua tranquilidade, acaba por satisfazer a viúva, com mais forte razão, irá Deus ouvir o pedido dos que Ele ama, de todos estes homens e mulheres que são os "seus escolhidos". Mas, por que falar de uma viúva? Porque, assim como o órfão, na Bíblia, a viúva é a figura da impotência: não tem ninguém para defendê-la neste universo patriarcal. Podeis ser tão fracos quanto é possível sê-lo, desprovidos de tudo, sem referência nem mérito, e Deus vos escuta! Pois é ao pobre que Deus escuta com prioridade. Exatamente por isso temos de tomar consciência de nossa pobreza; a nudez do homem, a nudez de Adão e Eva diante de Deus. A nudez de todo nascimento. A parábola continua a nos dizer que Deus não se faz esperar: responde imediatamente. Ou, como diz Marcos, já respondeu. Conforme observamos, no início deste comentário, isto não nos salta aos olhos. Podemos por certo escolher acreditar, mesmo quando à noite, mas isto não impede que nos interroguemos sobre o modo pelo qual Deus responde.

A resposta de Deus

A última frase é a que deve nos esclarecer: "O Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?" A resposta de Deus é sempre uma nova vinda do Cristo em nossas vidas. A expressão "fazer justiça" deve nos alertar. Quem de fato virá "fazer justiça" quando os tempos se cumprirem? Estamos acostumados a procrastinar esta "vinda na glória" para um futuro indeterminado. Da minha parte, penso que ela se produz no limite do tempo, ou seja, nesta verticalidade que supera cada um dos nossos instantes e que é a eternidade. Assim, a intervenção de Deus é imediata e permanente. Agora e na hora da nossa morte, cada um dos nossos instantes faz morrer, aliás, o que o precede. Buscai a Deus e O encontrareis: Ele já está aí e a nossa fé é que O encontra. As coisas seguem com certeza o seu curso, mas tudo isto que é o visível dobra-se numa face escondida. Conforme o visível, a oração de Jesus no Getsêmani permanece sem resposta e o cálice mortal não se afastará dele: a sua crucifixão está inscrita na Bíblia porque inscrita na vontade dos homens. Assim sendo, a vinda de Deus para nos fazer justiça, para nos trazer a justiça que perdemos, reveste-se sempre da forma pascal. Por isso é que "dia e noite gritamos por ele": na noite da ausência aparente e das injustiças que temos de suportar; e na luz do dia da certeza da ressurreição.

Marcel Domergue, jesuíta (tradução livre de www.croire.com pelos irmãos Lara)

 

O clamor dos que sofrem

A parábola da viúva e do juiz sem escrúpulos é, como tantos outros, um relato aberto que pode suscitar nos ouvintes diferentes ressonâncias. Segundo Lucas, é uma chamada para orar sem se desanimar, mas é também um convite para confiar que Deus fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Que ressonância pode ter hoje em nós este relato dramático que nos recorda tantas vítimas abandonadas injustamente à sua sorte?

Na tradição bíblica a viúva é símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada. Esta mulher não tem marido nem filhos que a defendam. Não conta com apoios nem recomendações. Só tem adversários que abusam dela, e um juiz sem religião nem consciência a quem não importa o sofrimento de ninguém.

O que pede a mulher não é um capricho. Só reclama justiça. Este é o seu protesto repetido com firmeza ante o juiz: “Faça-me justiça”. A sua petição é a de todos os oprimidos injustamente. Um grito que está na linha do que dizia Jesus aos seus: "Buscai o reino de Deus e a sua justiça".

É certo que Deus tem a última palavra e fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Esta é a esperança que acendeu em nós Cristo, ressuscitado pelo Pai de uma morte injusta. Mas, enquanto chega essa hora, o clamor de quem vive gritando sem que ninguém escute o seu grito, não cessa.

Para uma grande maioria da humanidade a vida é uma interminável noite de espera. As religiões pregam Salvação. O cristianismo proclama a vitória do Amor de Deus encarnado em Jesus crucificado. Entretanto, milhões de seres humanos só experimentam a dureza dos irmãos e irmãs e o silêncio de Deus. E, muitas vezes, somos os mesmos crentes que ocultamos seu rosto de Pai velando-o com o nosso egoísmo religioso.

Por que é que a nossa comunicação com Deus não nos faz escutar por fim o clamor dos que sofrem injustamente e nos gritam de mil formas: «Fazei-nos justiça»? Se, ao rezar, nos encontramos de verdade com Deus, como não somos capazes de escutar com mais força as exigências de justiça que chegam até ao seu coração de Pai?

A parábola interpela-nos a todos os crentes. Seguiremos alimentando as nossas devoções privadas esquecendo quem vive no sofrimento? Continuaremos rezando a Deus para colocá-lo a serviço dos nossos interesses, sem que nos importem muito as injustiças que há no mundo? E se rezar fosse esquecer-se cada um de si próprio e procurar do lado de Deus um mundo mais justo para todos?

José Antonio Pagola


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